terça-feira, 30 de março de 2010

Onde a imagem do Cruzeiro resplandece - Armando Nogueira

Creio eu que uma das melhores formas de se homenagear um grande jornalista é relembrando seus textos e suas palavras. Mas Armando Nogueira não escrevia apenas palavras, eram emoções nas páginas de jornais, livros e revistas. Fica aqui nossa homenagem a um dos maiores jornalistas da história do Brasil, relembrando um texto escrito por ele sobre uma das conquistas mais emocionantes da ultima década, a Copa do Brasil em 2000. Veja abaixo o texto escrito por ele alguns dias depois da final.


Um campeão sangue-azul

Armando Nogueira (1927-2010)

Gente, o chamado fator campo ainda conta – e como conta! É o que acaba de provar o Cruzeiro que, na final da Copa do Brasil, só deu a volta por cima à adversidade, a meu ver, graças ao alento de sua colossal torcida. Um verdadeiro fragor, no Mineirão. Eram as forças do coração, desatadas até o limite extremo da fé coletiva. Houve, ali, naquela tarde, uma ardente combinação de sentimentos entre a equipe e a torcida. Um momento mágico de arrebatada comunhão.

Bem que o regulamento da Copa pretende aliviar o peso do quesito campo, quando atribui peso dobrado a cada gol que marque o visitante. Em princípio, o critério é interessante, mas não é decisivo. A torcida do Cruzeiro, quando viu seu time emperigo, desatou sobre o campo um vendaval de esperanças que contagiou os jogadores. Eles que, já por si, estavam dando um exemplo emocionante de brio, de coragem, de repente, sentiram-se fortalecidos, canonizados, quase. Pois foi assim que vi, nas duas partidas, o time do Cruzeiro: infatigável, solidário, destemido e santificado pelo entusiasmo de sua multidão.

O time do São Paulo não teve menos bravura. Tecnicamente, porém, não foi tão convincente. Primeiro, que o Cruzeiro não lhe deu um instante de trégua; depois, ficou evidente, desde a primeira partida, que Wagner deixou saudades. Senão pela contribuição ao jogo coletivo, certamente, pelo talento de solista que sobra no futebol desse birrento volante a quem eu gostaria de ver na seleção.

O time do Cruzeiro, hoje, não tem o estilo de outros carnavais. Mas está a um passo de voltar a exibir o futebol que sempre o distinguiu. É só refinar um pouco mais o apoio da meia-cancha aos atacantes.

Há muito tempo que vejo o Cruzeiro, em campo, como o espelho azul do céu das Minas Gerais. É um espetáculo deslumbrante quando o Mineirão se veste todo de azul profundo pra exaltar o futebol. Azul, cor da nobreza.

Não é por acaso que o Cruzeiro tem sangue azul…

Fonte: Jornal do Brasil, 12jul00


Armando que suas palavras fiquem eternizadas na memória do Brasil.


Nenhum comentário:

Postar um comentário